segunda-feira, 16 de julho de 2012

Clareza indefinível.

   O cinza vívido no ambiente branco. Claro. A água ferveu. A música iluminava aquela tarde, a música era o suicídio prenunciado. Tomou banho, esquentou a água, estava se arrumando, limpando-se sensualmente, a água escorria e a alimentava e a perfumava. Cantava junto enrolado, e rio alegre, meio melancólica. Oh, querida, por que tem que ser assim? Não precisa disso. "Porra, Ian, cala a boca" Mas não o fez, era inútil, não queria ir lá e desligar o rádio e os pensamentos dela se misturavam com a música, com a água, com as paredes de azulejos do banheiro. Os segredos ressonavam alto, mas só o silêncio resolvia, nem perguntar nem responder. Ela queria gritar a música no cérebro, mudar a playlist, o disco, o que fosse. Ela já gritava tudo e seu controle perdeu-se mesmo estando estática e balbulciando todas, todos, tudo.
   O caos já estava feito, nada mais a fazer. Sem esperança. Como queimar aquilo tudo? Ia se secar mas esqueceu a toalha, foi buscar nua no quarto, não tinha a quem chamar, a quem recorrer, pingando partes dela nos cantos. Tudo misturado. O que sentia? Olha o bilhete que ela escreve, a letra bagunçada que nem a criatura. Se possível, foge até de si mesma, olha, quem se importa. "Se for preciso, eu sumo" - como diria Ana. Plantar saudades para colher o amor nos braços brancos de um leve inverno de no máximo 15ºC. Algo a hipnotizou, piscou não, pensou no abismo que o universo a prometia. O mundo era morno e a sufocava, não sabia se era maior ou menor que suas ambições, trancou sua tristeza em casa e saiu pra anunciar uma felicidade perdida, vê se acha pedaços dela, seguiu, apenas, era o que havia de fazer. Mais tarde, Ian ainda cantou pra ela, quando estava entorpecida de prazer e de tê-lo nos braços.

Um comentário: